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BRASIL

Um novo tempo, apesar dos racistas

Há quem diga por aí que não existe racismo no Brasil. Cinismo? Estupidez? Negação da realidade? Um pouco de tudo isso, talvez. A grande verdade é que o Brasil não é só um país racista; somos um país viciado em racismo.

A sociedade brasileira está estruturada numa lógica racista, forjada por um longo período de escravidão. Em sua trilogia sobre o assunto, o historiador e escritor Laurentino Gomes desenha pra nós a realidade e as características da escravidão no Brasil, tida por alguns como menos cruel do que em outros países, como os EUA. Em entrevista à Metrópole em agosto deste ano, na ocasião do lançamento do terceiro livro da série, ele desconstruiu essa ideia.

“O Brasil criou o mito de que a escravidão brasileira foi boazinha, patriarcal, benévola, e que o resultado foi uma grande e exemplar democracia racial. Quando você estuda os documentos históricos, você observa que a escravidão no Brasil foi tão cruel quanto a americana”, disse.
Laurentino Gomes falou também sobre o legado da escravidão no país. “Temos um Brasil injusto, desigual, de relações escravocratas. Qualquer pessoa que tenha um olhar honesto sobre o Brasil deveria se incomodar profundamente, não deveria dormir em paz à noite”.
Pra desfazer a estrutura escravista que rege muitas das relações sociais no Brasil, e para que pessoas pretas tivessem que matar menos leões por dia pra conquistar espaços, os brancos precisariam perder muitos de seus privilégios. E uma coisa que a elite branca brasileira não está disposta a fazer é abrir mão de privilégios.

A elite que diz que “não existe racismo no Brasil” é a mesma que se incomoda com a política de reparação da Lei de Cotas e com os direitos adquiridos pelas empregadas domésticas. Quem irá servi-los nas férias da “menina que trabalha lá em casa”? Como aceitar que um jovem negro que veio da escola pública “tire a vaga de Junior” por causa das cotas? Não foi fácil sentar ao lado de uma pessoa negra no avião naquela viagem à Disney, uma farra desenfreada, denunciada pelo já quase ex-ministro da Economia, Paulo Guedes.

A elite brasileira é racista. Viciada nos privilégios do racismo. Zero disposição a abrir espaços. Mas do outro lado está um povo que aprendeu a resistir e decidido a avançar, apesar dos pesares.

Nesta edição do Jornal da Metrópole você vai conhecer personalidades negras na Cultura, Política e Esporte. Vai ler um artigo sobre Feminismo Negro assinado poela Promotora Lívia Santana Vaz, reconhecida em 2020 como uma das 100 pessoas de descendência africana mais influentes do mundo. Conhecer a trajetória de mulheres negras que revolucionaram a Ciência, a Música e o Cinema. O primeiro diretor negro a representar a corrida do Brasil por um Oscar, aprender sobre como uma educação antirracista pode construir uma sociedade menos segregadora.

Racismo não é um problema do povo preto. É um problema dos brancos. O ano é 2022 e parecemos viver com muitos séculos de atraso. Há muito a se fazer. Comecemos a agir.

Fonte: Metro1

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