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Polícia concluiu as investigações e denuncia Flordelis como mandante do assassinato do marido em 2019.

Policiais chegam para cumprir mandado na casa onde o pastor Anderson foi morto — Foto: Reprodução/TV Globo
Policiais chegam para cumprir mandado na casa onde o pastor Anderson foi morto — Foto: Reprodução/TV Globo

Polícia e MPRJ afirmam não ter dúvida de que a deputada arquitetou o plano para matar o marido, o pastor Anderson do Carmo; tentativas começaram em 2018, com envenenamento, até a execução.

A Polícia Civil do RJ e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) afirmaram, durante entrevista coletiva da Operação Lucas 12, nesta segunda-feira (24), que não há dúvida de que a deputada federal Flordelis (PSD-RJ) é a autora intelectual da morte do marido, o pastor Anderson do Carmo.

O plano, segundo as investigações, começou em maio de 2018, com um envenenamento em doses por arsênico, e terminou com a execução. O pastor foi morto com mais de 30 tiros em 16 de junho de 2019, na porta de casa.

“Flordelis, além de arquitetar todo esse plano, financiou a compra dessa arma, convenceu pessoas a realizar esse crime, avisou sobre a chegada da vítima ao local e tentou ocultar provas. Não resta a menor dúvida deque ela foi a autora intelectual, a grande cabeça desse crime”, afirmou o delegado Allan Duarte.

A deputada, segundo uma das interceptações da investigação, teria dito que não poderia se separar de Anderson.

“Quando ela fala com um dos filhos sobre os planos de matar Anderson, ela disse: ‘Fazer o quê? Se eu separar dele, vou escandalizar o nome de Deus’”, afirmou o promotor Sérgio Luiz Lopes Pereira, do Grupo de Atuação Especializada e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público.

Segundo o MPRJ, Flordelis também foi denunciada por associação criminosa, feita para matar o pastor Anderson.

“Uma associação criminosa que começou para matar por envenenamento, depois por arma de fogo, e por último para fraudar as investigações, com uso de contrainformações”, finalizou o promotor.

Flordelis não pôde ser presa por causa da imunidade parlamentar — quando somente flagrantes de crimes inafiançáveis são passíveis de prisão. Agentes prenderam nove pessoas pelo envolvimento no crime.

Envenenamento gradual

O promotor explicou ainda que as tentativas de envenenamento contra o pastor Anderson do Carmo começaram em maio de 2018, utilizando arsênico.

“O envenenamento foi feito de forma gradual, sucessiva. O arsênico era posto na comida do pastor de forma dissimulada”, disse Sérgio Luiz.

“Até 2019, ele teve várias passagens na emergência de hospitais de Niterói, com diarreia, vômitos, sudorese, e se tratando como se fossem outras coisas”, explicou o promotor.

O que diz a defesa da deputada

A jornalistas na delegacia, o advogado Anderson Rollemberg disse ter ficado surpreso.

“A defesa foi surpreendida com essas prisões preventivas das cinco filhas da deputada e da neta. Tomaremos conhecimento do que há de indícios para que essas prisões fossem feitas e para o indiciamento da deputada, já que na primeira fase da investigação, passou longe de qualquer prova que a apontasse como mandante”, afirmou.

“A deputada está muito aborrecida e chateada com tudo que está ocorrendo porque tem com ela a inocência. Jamais foi mandante desse crime bárbaro”, destacou.

Segundo o advogado, Flordelis não tinha ingerência sobre o dinheiro da família. “Ela é cantora gospel, líder religiosa e parlamentar federal. A questão dela sempre foi dar o melhor para os necessitados. Por isso tinha mais de 50 filhos. Na opinião da defesa, está havendo um grande equívoco no desfecho desta investigação”.

Flordelis não pode deixar o país

Segundo determinação da juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, a deputada não pode se ausentar do país sem autorização judicial ou transferir sua residência para outra cidade. Ainda segundo a magistrada, Flordelis está proibida de manter contato com qualquer testemunha ou com os outros réus.

“Afastada a possibilidade do decreto prisional por força da imunidade constitucional, resta a possibilidade de decretação de medidas cautelares diversas da prisão, que igualmente visam a resguardar a ordem pública e garantir a conveniência à instrução criminal, de forma a garantir a regularidade do processo”, diz a decisão.

Filhos de Flordelis são presos por suspeita no envolvimento na morte do pastor Anderson do Carmo — Foto: Reprodução / TV Globo

Como foi a operação

As prisões foram expedidas pela 3ª Vara Criminal de Niterói, que aceitou a denúncia do MP e tornou Flordelis ré.

Com a Operação Lucas 12, chega a sete o número de filhos presos no caso. Todos já são réus perante a Justiça.

  • Nesta segunda, foram presos cinco filhos do casal (Adriano, André, Carlos, Marzy e Simone) e uma neta (Rayane).
  • A Justiça ainda emitiu mandados de prisão contra dois homens que já estavam na cadeia: o filho apontado como autor dos disparos (Flavio) e um ex-PM (Marcos).
  • Um sétimo filho (Lucas), que já tinha sido preso por conseguir a arma, foi denunciado na Lucas 12.

Segundo a polícia, antes do assassinato a tiros, Flordelis tentou matar o marido pelo menos quatro vezes — uma delas com veneno na comida.

Resumo

  • O inquérito concluiu que Anderson foi morto por questões financeiras e poder na família — o pastor controlava todo o dinheiro do Ministério Flordelis, hoje rebatizado de Comunidade Evangélica Cidade do Fogo.
  • De acordo com as investigações, Flordelis já planejava desde 2018 o assassinato de Anderson.
  • Flordelis é uma das 11 pessoas denunciadas pelo MPRJ (veja a lista abaixo).
  • Após o crime, Flordelis relatou em depoimento e à imprensa que o pastor teria sido morto em um assalto.
  • A deputada vai responder por cinco crimes: homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima), associação criminosa, falsidade ideológica e uso de documento falso. Pelo envenenamento, ela responderá por tentativa de homicídio.

Os policiais saíram para cumprir 17 mandados de busca e apreensão nas cidades do Rio de Janeiro, Niterói e São Gonçalo.

Um dos endereços foi a casa da deputada, local do crime, no bairro de Pendotiba, em Niterói, na Região Metropolitana do RJ, onde quatro filhos foram presos.

O apartamento funcional da deputada, em Brasília, também foi alvo de buscas. Lá, foi presa a neta Rayane. Pouco antes das 7h, policiais civis do Distrito Federal deixaram o imóvel carregando malotes.

Presos na Operação Lucas 12

A polícia assim dividiu a participação na morte de Anderson.

  • Presos na casa de Pendotiba (Niterói), local do crime:
  1. Marzy Teixeira da Silva (filha adotiva): cooptou Lucas para matar o Pastor Anderson. Também participou dos envenenamentos;
  2. Simone dos Santos Rodrigues (filha biológica): responsável pelos envenenamentos. Simone buscou informações sobre uso de veneno na internet;
  3. André Luiz de Oliveira (filho adotivo): ex-marido de Simone, foi flagrado em conversas com Flordelis combinando o envenenamento;
  4. Carlos Ubiraci Francisco Silva (filho adotivo): pastor, é citado por participação no planejamento da morte;
  • Preso em Camboinhas (Niterói):
  1. Adriano dos Santos (filho biológico): auxiliou no episódio da carta falsa;
  • Presa em Guaratiba (Zona Oeste do Rio):
  1. Andreia Santos Maia (mulher do ex-policial Marcos): auxiliou no episódio da carta falsa.
  • Presa em Brasília:
  1. Rayane dos Santos Oliveira (neta): buscou por assassinos para as tentativas anteriores, como Lucas. Estava no apartamento funcional da mãe.
  • Já estavam presos:
  1. Flavio dos Santos Rodrigues (filho biológico): apontado como autor dos disparos, já estava preso e teve um mandado de prisão expedido nesta segunda;
  2. Marcos Siqueira (ex-policial): auxiliou no episódio da carta falsa e já estava preso com mais um mandado de prisão expedido nesta segunda;

Além desses nove, foram denunciados:

  • Flordelis dos Santos de Souza: é a mentora do crime. Responderá por homicídio triplamente qualificado; tentativa de homicídio duplamente qualificado; associação criminosa majorada; uso de documento ideologicamente falso e falsidade ideológica;
  • Lucas Cezar dos Santos (filho adotivo): já estava preso, mas não teve mandado de prisão nesta operação.

Fonte: G1

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