BAHIA
Pesquisa revela potencial produtivo e importância da força de trabalho da mulher para a Agricultura Familiar na Bahia
Foi realizado, nesta terça-feira (25), o seminário virtual estadual Cadernetas Agroecológicas – Resultados, Impactos e Perspectivas para discutir os resultados da pesquisa realizada pelo Semear Internacional – programa do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) com 370 agricultoras do Pró-Semiárido, projeto do Governo do Estado, executado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), empresa vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR).
Os dados foram levantados a partir das anotações feitas pelas agricultoras na Caderneta Agroecológica, ferramenta idealizada para gerir e controlar a produção gerada por elas, e a partir de quatro pontos principais: relações econômicas monetária e não monetária; tipos e grupos de alimentos vendidos, doados e trocados; relação familiar e divisão sexual do trabalho doméstico e a organização social e inerseccionalidade (escolaridade, cor, etnia, categoria das agricultoras, geração, etc.). “O seminário foi pensado para dar uma devolutiva a essas 370 mulheres e visibilidade ao esforço e ao trabalho para levantamento desses dados feito por muitas mãos”, explicou a assessora de gênero do Pró-Semiárido e coordenadora do seminário estadual, Beth Siqueira.
Em seis meses, a renda gerada por essas mulheres, em 217 comunidades rurais, foi de R$513.647,91, com a comercialização, consumo e trocas de 591 tipos de produtos: alimentos de origem vegetal e animal, plantas e preparos medicinais, mudas e sementes, alimentos de origem mista, artesanatos e trabalhos manuais. “As Cadernetas Agroecológicas revelaram o que estava oculto sobre o quanto a mulher contribui para a segurança alimentar, para questão da renda e das relações sociais no campo”, explicou a coordenadora do Semear Internacional, Fabiana Viterbo.
“Este trabalho nos deixa extremamente felizes, pois permite que as agricultoras familiares se incorporem ao processo de desenvolvimento econômico geral do estado. O trabalho com as Cadernetas Agroecológicas deveria ser replicado em todo Brasil, pois busca a liberdade econômica para essa mulher, e é isso que almejamos e temos perseguido aqui na Bahia, maior autonomia financeira para as pessoas”, declarou o secretário de desenvolvimento rural, Josias Gomes.
O diretor-presidente da CAR, Wison Dias, destacou o pioneirismo do Pró-Semiárido nas ações que visam a equidade de gênero no campo, o caráter formativo do trabalho com as Cadernetas e a relevância da pesquisa para que fosse possível mensurar a força de trabalho das mulheres em suas propriedades: “A interação diária das agricultoras com a ferramenta acaba sendo um processo formativo muito eficiente. E agora, com a sistematização dessa experiência, teremos a capacidade de traduzir e dar visibilidade àquilo que ficava subentendido na cabeça das pessoas. Todo mundo sabia da importância da mulher na propriedade rural, a gente só não sabia medir direito e nem dar visibilidade a isso”.
A equidade de gênero é um dos princípios do Pró-Semiárido, e as Cadernetas Agroecológicas figuram como ação central do projeto nesse sentido. “As Cadernetas dão uma concretude muito grande a um discurso fundamental do projeto que é o trabalho com gênero. Além de magnificar este trabalho, dão uma linha condutora ao discurso que sempre defendemos”, assinala o coordenador do Pró-Semiárido, Cesar Maynart.
Na Bahia, a pesquisa foi realizada com o apoio das entidades não governamentais, parceiras do Pró-Semiárido: Irppa, Coopercuc, Sajuc, AAPJ, Idesa, Sasop, Aresol, Cactus, Coopser e Cofaspi, representadas no evento pela agrônoma Tamara Lacerda e o agrônomo Josuel Victor, que apresentou análise específica sobre a produção de agricultoras dos Territórios Piemonte da Diamantina e Bacia do Jacuípe.
O Pró-Semiárido é o projeto com maior número de mulheres utilizando de forma sistemática a Caderneta Agroecológica, 374 agricultoras. Este trabalho tem apoio do Projeto Semear Internacional, ação cofinanciada pelo FIDA.Parceria
O trabalho com as Cadernetas Agroecológicas tem sido absorvido por outras instâncias do Governo do Estado da Bahia, como é o caso da Superintendência Baiana de Assistência Técnica e Extensão Rural (Bahiater), que vem adotando a ferramenta no trabalho de assessoria técnica e extensão rural desenvolvido em todo estado. “O trabalho com as Cadernetas, para além da importância de comprovar a capacidade produtiva da mulher agricultora, tem um papel na defesa da vida das mulheres, da sua autonomia”, destacou a superintendente da Bahiater, Célia Watanabe. A Bahiater lançou edital exclusivo para levar assessoria técnica a 5400 mulheres rurais e a metodologia das Cadernetas Agroecológicas será incorporada, com a sistematização de 10% dos dados a serem coletados.
A Caderneta Agroecológica (CA) foi concebida, em 2011, pelo Centro de Tecnologias Alternativas na região de Zona da Mata em Minas Gerais (CTA/ZM), em interlocução com o Grupo de Trabalho Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia – (GT/ANA). “É muito importante que o Governos, as instituições e as organizações olhem para o modo de produção das mulheres, para que cada vez mais tenhamos uma assistência técnica qualificada e voltada para as mulheres, contribuindo para o empoderamento delas”, ressaltou Beth Cardoso, uma das idealizadoras da ferramenta, representando o GT/ANA e o CTA/ZM.Fonte: Ascom/SDR