BRASIL

O cigarro eletrônico no Brasil é proibido mas seu consumo aumenta

O cigarro eletrônico está proibido no Brasil desde 2009 por decisão da agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A agência explica que está em curso uma etapa de coleta de dados técnicos e científicos para análise do impacto regulatório do veto aos produtos que pode servir para reverter a opinião da Anvisa sobre o assunto.

Os cigarros eletrônicos, vape, e-cigarrette e até “pen drive”: Os dispositivos eletrônicos para fumar estão se tornando cada vez mais populares no Brasil. Em embalagens coloridas, com sabores diferentes, sem o cheiro ruim dos cigarros tradicionais e com muita fumaça, os produtos são muito usuais entre os jovens embora não possam ser comercializados no país.

Na esteira da discussão, várias associações médicas se juntaram para se posicionar veementemente contra a liberação do uso dos cigarros eletrônicos. Assinam o documento, que foi publicado em 9 de maio, a Associação Médica Brasileira (AMB), a Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (ABEAD), a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). 

Os riscos
Corrêa explica que, além de todos os problemas de saúde que podem ser causados pelo uso do cigarro tradicional, o vape ainda oferece mais riscos. O filamento de metal que aquece o líquido, por exemplo, é composto de metais pesados que acabam sendo inalados. “O níquel é um exemplo. Existem pesquisas que mostram níveis 100 vezes mais altos em quem fuma cigarro eletrônico, e é uma substância cancerígena. E não adianta dizer que se expõe pouco, tem que ser nada, é o tipo de coisa que, se você se expõe, está em risco“, alerta o médico.

O líquido também tem pelo menos 80 substâncias químicas que são consideradas perigosas — um estudo francês publicado recentemente aumentou o número para 104. Até os elementos químicos usados para criar a fumaça são responsáveis por reforçar a dependência na nicotina.

“A indústria não tem estudo sobre os efeitos do propilenoglicol (que faz a fumaça) em humanos. A última pesquisa é dos anos 1980, e foi feita em animais”, explica Corrêa. As nanopartículas formadas pelo vape também podem aumentar o estado inflamatório e desencadear eventos cardiovasculares agudos, como um infarto, por exemplo.

O pneumologista conta que pessoas que fumam cigarro eletrônico podem desenvolver uma condição chamada EVALE, que é uma lesão causada pelo produto nos pulmões — a doença ficou famosa depois do sertanejo Zé Neto ter sido internado com o problema. “A parte clínica da doença é idêntica à Covid-19, e o paciente acha que está com a infecção. Mas o quadro vai piorando e o PCR só dá negativo. Como estávamos no meio da pandemia, tudo era considerado Covid-19, porém, muitos desses casos foram pelo uso do cigarro eletrônico. E o governo não tem dados sobre isso”, diz Corrêa.

Os pulmões do publico jovem, que é o principal usuário do cigarro eletrônico, também não estão preparados para lidar com a carga de substâncias químicas inaladas. O médico explica que o órgão só atinge a maturidade, o pico de funcionamento, aos 25 anos. Antes disso, está mais suscetível a lesões. “É um produto que não tem cheiro ruim, não dá aspereza na garganta, é perfumado, tem uma interface tecnológica, é quase um gadget, e parece que não faz tão mal assim. O jovem não pensa a longo prazo, ele quer socializar, não quer saber se faz mal no futuro. Mas é uma porta de entrada para o cigarro, e não é seguro”, alerta o médico.

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