PF quase arrombou a casa do presidente Nacional do Partido Socialista Cristão (PSC), já que o alvo demorou a abrir a portaChico Otavio, Daniel Biasetto, Diego Amorim e Rafael Nascimento de Souza28/08/2020 – 09:34 / Atualizado em 28/08/2020 – 12:24
RIO — “Não tem dinheiro em casa”. Essa foi a única frase dita pelo pastor Everaldo, que foi preso na manhã desta sexta-feira, dia 28, em uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro. Integrante da Assembleia de Deus e presidente Nacional do Partido Socialista Cristão (PSC), o político é suspeito de estar envolvido em um suposto esquema de desvios na saúde do estado. Seu mandado de prisão foi expedido pelo ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o mesmo que determinou o afastamento imediato do governador Wilson Witzel (PSC) do cargo, por 180 dias. Dois filhos do pastor também foram presos: Felipe Pereira e Laércio Pereira.PUBLICIDADEAds by Teads
Quatro agentes da PF e uma procuradora federal chegaram por volta das 5h50 na residência de Everaldo Dias Ferreira, de 64 anos, onde permaneceram por cerca de 1h30. O alvo demorou a abrir a porta, e houve tentativa de arrombamento, até que ele permitiu a entrada dos policiais. Foram encontrados documentos da mulher do pastor no local.
O político chegou na sede da PF, no Centro do Rio, às 8h21m. Sem falar com a imprensa, o integrante ele chegou no banco de trás de um carro oficial do órgão, com máscara de proteção facial. O pastor estava sentado no meio, entre dois agentes, com uma pasta branca nas mãos. Ao sair do veículo, ele carregava uma sacola preta.
A advogada do Pastor Everaldo, Marta Leão, chegou na sede PF às 8h32 e não quis falar com a imprensa. Em nota, a defesa dele afirmou que “ele sempre esteve à disposição de todas as autoridades e reitera a sua confiança na Justiça”
O PSC também se manifestou por meio de nota e informou que o ex-senador e ex-deputado Marcondes Gadelha, vice-presidente nacional da legenda, assume provisoriamente o cargo de presidente. O calendário eleitoral do partido segue sem alteração. O PSC informa ainda que “confia na Justiça e no amplo direito à defesa de todos os cidadãos e que o pastor, assim como o governador Wilson Witzel, sempre estiveram à disposição das autoridades”.
A operação Tris in Idem culminou ainda no afastamento do governador Wilson Witzel. No total, foram expedidos 17 mandados de prisão (seis preventivas e 11 temporárias) e 72 de busca e apreensão.
Com mais de 30 anos de atuação nos bastidores da política nacional, o Pastor Everaldo aprendeu a se movimentar entre partidos de direita e esquerda com desenvoltura, principalmente no Rio, seu domicílio eleitoral, onde transitou pelos governos de Leonel Brizola, Benedita da Silva, Anthony Garotinho e Sérgio Cabral. Foi colado no ex-deputado Eduardo Cunha e o partido do qual é presidente, o mesmo PSC de Witzel, abrigou por anos a família Bolsonaro.
Para além de sua ligação com a religião, sua maior aventura na política foi disputar a Presidência em 2014 ficando na quinta colocação, com 780 mil votos. Já sua grande cartada até então havia sido a invenção do “poste” Witzel na surpreendente eleição de 2018, quando contrariando todas as pesquisas eleitorais o ex-juiz derrotou Eduardo Paes.
Pastor da Assembleia de Deus em Madureira, chefiada pelo Bispo Manoel Ferreira, Everaldo ganhou fama no meio político por ser considerado pragmático, organizado e tenaz. Ele se filiou ao PSC em 2003 e fez crescer exponencialmente o número de deputados eleitos depois de ter assumido o comando da legenda.PUBLICIDADEhttps://1074b79a80fdcd381f643ce416241224.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html
Como dono do partido, ele comprou a ideia da candidatura de Witzel quando ela era tratada como uma piada e aparecia com apenas 1% das intenções de voto. Hoje se tornou um articulador da relação com o Legislativo do Rio.
Com espaço amplo na gestão de Witzel, o presidente do PSC tem influência no Detran e ainda emplacou o filho, Filipe Pereira, como assessor especial do governador. Também é responsável pela indicação de Carlos Braz., filho de um obreiro da igreja para a diretoria do Interior da Cedae, responsável pelas obras da Chison.
O pastor já havia sido citado na Lava-Jato por um executivo da Odebrecht Ambiental. Ele teria recebido R$ 6 milhões para favorecer Aécio Neves no debate presidencial de 2014, quando foi candidato ao Planalto.
De um tempo para cá, após as operações que miraram o entorno do governador, Everaldo tem tomado distância do Palácio Guanabara e causou suspense em comentários nas redes sociais dando indiretas com mensagens bíblicas para Witzel, como mostrou “Época”.PUBLICIDADEhttps://1074b79a80fdcd381f643ce416241224.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html
Um dos motivos das rusgas entre Everaldo e Witzel teria como pivô o ex-secretário de Desenvolvimento Econômico Lucas Tristão, também alvo da Lava-Jato. Considerado braço direito do governador desde os tempos em que dividiam o mesmo escritório de advocacia, Tristão demitiu indicados do pastor no governo. Ele foi exonerado após as investigações da Lava-Jato indicarem ligação entre ele e Mário Peixoto, um dos cabeças do esquema de desvios na saúde.